Toda semana é a mesma coisa: leio o jornal O Vale todos os dias, encontro bons textos e assuntos interessantes, mas nenhum dia é como a sexta-feira! Não por ser o último dia da semana e logo depois vir o sábado, mas por ser o dia em que o jornal O Vale ganha linhas graciosamente rabiscadas por uma das minhas escritoras preferidas: Vanessa Campos .
É como se eu procurasse em seus textos expressões e/ou situações que traduzissem o que eu sinto e vivo com o homem que tanto amo! Claro que em todos os textos dela eu encontro um poudo de mim, mas acredito que esse de hoje diga mais.. sobre mim, sobre ele, sobre nós!.. pq os outros, ah.. os outros são só os outros.
Ah, O amor!
Eu estava imitando pela milionésima vez a mesma pessoa, cutucando a barriga com a ponta do dedo e fazendo aquela sotaque inventado de madame viajada, e ele ria como se fosse a primeira vez. Uma risada estranhamente bonita, aguda demais para ele e ao mesmo tempo, tão rica, tão viva e tão espontânea.
E quando eu dei o gritinho final, quase que exatamente como a mesma pessoa dá, ele levantou as pernas, como se fosse um gafanhoto molhado tentando secar as patinhas e eu vi escorrer lágrimas de felicidades dos olhos dele.
Olhando essa cena bizarra e alegre, senti um amor bem doce e besta e me deu vontade forte de abraçá-lo e de nunca mais separá-lo de mim. E de fazer gracinhas assim todos os dias, só para vê-lo rindo que nem um gafanhoto estranho e bonitinho.
Era como se o mundo tivesse finalmente um motivo bom para existir, e todas as respostas e todas as perguntas se encaixassem em um só momento, e todas as coisas, o céu, o mar, as plantas aquáticas e as amebas, tudo fizesse sentido e eu e você também.
E naquele momento, as outras coisas, as outras pessoas, as contas, os medos, os erros e os programas políticos e as filas de banco saíram de foco e ficaram embaçadas, fazendo um fundo em tons de pastel, para que nós dois nos enxergássemos em relevo.
Se eu soubesse que amor era assim, essa mistura alucinógena de tempo, espaço e sentido e que até o medinho de saber que isso poderia acabar de vez e talvez durar só esse minutinho também fosse bom, eu não teria demorado tanto para me entregar.
Mas era preciso esse momento. Essa mesma piada e essa mesma risada. E desses anos juntos, até chegar nesse dia, que eu o visse com as pernas chacoalhando para cima, para me sentir assim e saber que ele é o cara.
O cara que vai me fazer repetir ainda mil vezes a mesma imitação mal feita de alguém e que vai rir como um gafanhoto molhado e ainda assim bonitinho e fazer desses momentos, uma imensa sensação de amor.
Vanessa Campos